Saudades! Sim.. talvez.. e por que não?...
Se o sonho foi tão alto e forte
Que pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!
Esquecer! Para quê?... Ah, como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão.
Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar
Mais decididamente me lembrar de ti!
E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais saudade andasse presa a mim!
Florbela Espanca, in
"Livro de Sóror Saudade"
Hoje vieste ver-me,
a troco de um pensamento
trazias um punhado
de palavras cintilantes,
flores que pacientemente
amaciaram o meu rosto.
Hoje senti
o teu abraço apertado
na paisagem transparente erguida
tão perfeitamente adormecida
do nosso paraíso adiado
que tarda em acontecer.
Hoje a tua visita
apareceu à janela do tempo
e afastou a paisagem do vento
que nossos olhos cantam
no canto do nosso olhar.
Hoje vieste ver-me
e sem te tocar contigo fui devagar
no meu profundo sono, deixei-me levar
incendeia num vespertino silêncio.
e desperto no meu acordar.
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